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Mecanismos de Defesa de Freud e os Personagens de Ingmar Bergman

  • Foto do escritor: Bruno Soares
    Bruno Soares
  • 25 de fev.
  • 3 min de leitura

Os mecanismos de defesa, segundo Sigmund Freud, são estratégias inconscientes que o ego utiliza para proteger-se de sentimentos e pensamentos dolorosos ou ameaçadores. Essas defesas permitem que o indivíduo mantenha uma imagem estável de si mesmo e evite a ansiedade. O cinema de Ingmar Bergman, conhecido por sua profundidade psicológica e exploração da condição humana, oferece um terreno fértil para a análise dos mecanismos de defesa freudianos através de seus personagens complexos.


Repressão e o Silêncio Interior


Um dos mecanismos mais fundamentais é a repressão, que envolve o afastamento de pensamentos e sentimentos inaceitáveis da consciência. Em "A Hora do Lobo" (1968), o protagonista, Johan, enfrenta uma profunda crise existencial. Ele é atormentado por visões de seres sobrenaturais e pela percepção de que sua realidade está se desintegrando. Johan tenta reprimir esses medos, mas a pressão interna se torna insuportável. Sua luta contra a repressão culmina em um colapso mental, simbolizando a fragilidade do ego diante de uma realidade que ele não consegue mais controlar. A repressão, nesse caso, não apenas afeta Johan, mas também sua esposa, que se vê presa em um ciclo de negação e incapacidade de compreender a gravidade da situação.


Projeção e o Conflito Interno


A projeção, outro mecanismo de defesa, refere-se à tendência de atribuir a outros sentimentos ou características indesejáveis que não conseguimos aceitar em nós mesmos. No filme "O Sétimo Selo" (1957), o cavaleiro Antonius Block retorna das Cruzadas e se depara com a Morte. Sua luta contra a Morte pode ser vista como uma projeção de seus próprios medos e inseguranças. Block tenta transferir sua angústia para a figura da Morte, desafiando-a em um jogo de xadrez. Essa interação revela seu desejo de confrontar a própria mortalidade e, ao mesmo tempo, a incapacidade de aceitar a inevitabilidade da morte. A projeção, portanto, não apenas serve como um meio de defesa, mas também como uma forma de explorar a condição humana e a busca por significado.


Racionalização e a Busca por Significado


A racionalização é um mecanismo em que o indivíduo oferece explicações lógicas para comportamentos ou sentimentos que na verdade têm raízes emocionais. Em "Através de um Espelho" (1961), a protagonista, uma mãe, justifica suas ações e a falta de conexão emocional com sua filha como sendo resultado das dificuldades da vida e das obrigações sociais. No entanto, suas justificativas mascaram um profundo sentimento de culpa e tristeza. Bergman revela, por meio dessa personagem, como a racionalização pode ser um escudo contra a dor emocional, mas também um obstáculo para o verdadeiro entendimento e reconciliação.


Negação e a Realidade Distorcida


A negação é um mecanismo de defesa que envolve a recusa em aceitar a realidade de uma situação ameaçadora. Em "A Fonte da Donzela" (1960), os personagens vivem em uma sociedade que se recusa a confrontar suas crenças e comportamentos prejudiciais. A negação se manifesta na incapacidade dos indivíduos de ver as consequências de suas ações, resultando em uma espiral de violência e injustiça. Bergman utiliza a negação para explorar as falhas da sociedade, mostrando como a recusa em aceitar a verdade pode levar a tragédias coletivas e individuais.


Sublimação e a Transformação da Dor


Por outro lado, a sublimação é um mecanismo de defesa mais adaptativo, onde os impulsos inaceitáveis são transformados em ações socialmente aceitáveis. O personagem de "Cenas da Vida Conjugal" (1973), Johan, apresenta essa defesa ao canalizar suas frustrações e inseguranças em seu trabalho e na criação de uma nova vida, mesmo diante das dificuldades de seu relacionamento. A sublimação permite que Johan encontre significado em sua dor e transformações, tornando-se um exemplo de como os mecanismos de defesa podem servir não apenas para evitar o sofrimento, mas também para promover o crescimento pessoal.


A Intersecção dos Mecanismos de Defesa


Ao longo da filmografia de Bergman, podemos observar que seus personagens frequentemente operam em um espaço onde múltiplos mecanismos de defesa coexistem. A intersecção entre repressão, projeção, racionalização, negação e sublimação cria um retrato rico e complexo da psique humana. A habilidade de Bergman em capturar a luta interna de seus personagens, muitas vezes representada em diálogos intensos e situações de tensão, revela a luta universal do ser humano para lidar com a dor, o medo e a busca por significado.


Os mecanismos de defesa de Freud oferecem uma lente valiosa para compreender os personagens de Ingmar Bergman. As obras do cineasta sueco exploram a condição humana em suas mais diversas facetas, refletindo a luta interna entre desejo, medo e a busca por compreensão. Ao retratar personagens que utilizam esses mecanismos de defesa, Bergman não apenas ilumina a complexidade da psique humana, mas também provoca o espectador a confrontar suas próprias defesas e a realidade de suas existências. A interação entre a teoria psicanalítica e a arte cinematográfica cria um espaço fértil para a reflexão sobre a natureza da dor, do amor e da busca por um significado mais profundo na vida.


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