A Personalidade Neurótica no filme "O Farol"
- Bruno Soares
- 25 de fev.
- 3 min de leitura
Dirigido por Robert Eggers, O Farol é um filme que explora a deterioração mental de dois homens, Thomas Wake (Willem Dafoe) e Ephraim Winslow (Robert Pattinson), enquanto trabalham isolados em um farol. O isolamento, combinado com condições adversas e tensões psicológicas, desencadeia uma série de eventos que revelam traços de personalidades neuróticas, particularmente em Winslow.

A neurose é um distúrbio mental caracterizado por ansiedade, obsessões e repressão de impulsos internos. No caso de Winslow, o isolamento forçado e o comportamento autoritário de Wake criam uma atmosfera de crescente tensão e paranoia. O filme aborda, de maneira sutil e perturbadora, os mecanismos de defesa que se manifestam em sua psique, como repressão, deslocamento e projeção.
Desde o início, Ephraim Winslow já apresenta sinais de repressão. Ele guarda um segredo sombrio sobre seu passado, o que gera um constante sentimento de culpa e autoaversão. Essa repressão é uma das bases da neurose, segundo Freud, e vai lentamente se intensificando ao longo da narrativa. O isolamento no farol age como um catalisador para esses conflitos internos, tornando sua ansiedade e obsessões cada vez mais evidentes. Winslow começa a desenvolver comportamentos compulsivos e obsessivos, como seu crescente fascínio e terror pela misteriosa luz do farol, algo que ele não pode acessar e que se torna um símbolo de seu desejo reprimido.
Conforme os dias passam, a relação entre Wake e Winslow se torna mais conflituosa, oscilando entre camaradagem e hostilidade. Esse relacionamento reflete a batalha interna de Winslow entre seus impulsos reprimidos e seu desejo por controle. Ele começa a projetar seus medos e frustrações em Wake, vendo-o como um inimigo ou uma figura opressora, em vez de lidar diretamente com seus próprios conflitos internos.
Outro aspecto importante da neurose de Winslow é sua paranoia. Ele começa a desconfiar de tudo ao seu redor, inclusive das intenções de Wake. Esse tipo de paranoia, exacerbada pela solidão e pelo isolamento, é um dos sintomas clássicos de uma personalidade neurótica. A mente de Winslow começa a criar realidades alternativas, distorcendo os eventos ao seu redor e mergulhando em delírios e alucinações.
Esses delírios se manifestam em visões perturbadoras que Winslow tem, muitas vezes envolvendo criaturas míticas, como sereias, e cenas violentas. A luta entre a realidade e a fantasia é um tema central no filme e está diretamente ligada à deterioração mental de Winslow, que não consegue mais distinguir entre seus medos internos e o que realmente está acontecendo no mundo externo. Freud acreditava que os neuróticos muitas vezes se afastam da realidade como forma de lidar com conflitos internos não resolvidos, e é exatamente isso que vemos em O Farol.
A obsessão de Winslow pela luz do farol é um símbolo de sua busca por algo inalcançável, uma representação de sua luta interna. O farol, sempre presente, mas fora de seu alcance, serve como um lembrete constante de sua impotência diante de seus próprios desejos e temores. Esse tipo de obsessão, em que o indivíduo se fixa em um objeto ou ideia de maneira excessiva, é outro traço clássico da neurose. A luz se torna o ponto central de sua fixação, representando tanto seus desejos reprimidos quanto seu desejo de controlar o que não pode ser controlado.
No clímax do filme, quando Winslow finalmente consegue acessar a luz, sua busca chega a um fim trágico. Ele é consumido por aquilo que tanto desejava, em uma representação literal de como a neurose pode levar à autodestruição quando os impulsos reprimidos finalmente emergem. Essa cena final encapsula a ideia de que a personalidade neurótica, quando levada ao extremo, pode perder completamente o contato com a realidade, resultando em uma espiral de colapso mental.
O Farol é, portanto, uma exploração densa da neurose, mostrando como o isolamento, a repressão de impulsos e os conflitos internos não resolvidos podem levar à deterioração mental. O filme utiliza o simbolismo do farol e a dinâmica entre os dois personagens para criar uma alegoria sobre a luta interna de uma mente neurótica.



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